16 out 2018

Cicatrizes da Crise

Categoria Artigos de Opinião
  • Cicatrizes da Crise

Já lhe chamaram fuga de cérebros, fuga talentos, descapitalização intelectual, desertificação intelectual entre outras coisas. Esta é uma realidade ainda mais vincada na Engenharia Civil.

O Monitor da Educação e Formação 2016 refere que entre 2001 e 2011 houve um aumento de 87,5% dos portugueses com formação superior a abandonar o país. Entre 2012 e 2014 registou-se um pico de emigração, tendo abandonado o país 40 mil portugueses altamente qualificados. Se atendermos a que nestes anos se licenciaram aproximadamente 80 mil alunos por ano, isto representa uma percentagem assustadora. Acresce a este facto que uma grande maioria tinha formação em áreas de Engenharia. Este tipo de emigração é muito diferente da emigração do passado, tanto pela qualidade dos recurso que estamos a perder, como pelo facto de a maioria não tencionar regressar a curto prazo. Destes, 43% diz que ficará fora mais do que uma década e 20% pensa ficar fora entre 6 a 10 anos.

As principais razões apontadas para esta fuga são o desemprego, os níveis salariais, as competências subaproveitadas e os limites na progressão. Trata-se de uma espiral difícil de vencer. Menos pessoas qualificadas, menos valor acrescentado, menor capacidade de reter as pessoas. Os fluxos dos lugares menos desenvolvidos para os lugares mais avançados são uma característica humana, no entanto teremos que tomar as medidas possíveis para estancar esta situação e desenvolver o país com soluções mais criativas e de maior valor acrescentado. Que medidas podem ser tomadas nas áreas da Arquitetura e Engenharia:

- Criar regras de competição baseadas na qualidade e no valor acrescentado e não apenas no menor preço. O nosso Código dos Contratos Públicos está estagnado num modelo de competição ao menor preço, limitando as empresas que podem e querem competir e fornecer produtos e serviços de maior valor acrescentado. As empresas não podem reter cérebros se o estado e a sociedade não reconhecer o seu talento.

- Atrair os melhores alunos para as melhores universidades. Quem conhece o sistema Britânico de ingresso na universidade, sabe que ele é baseado num modelo decompetição pelos melhores alunos, nacionais e internacionais. As nossas universidades ganhariam em competir mais entre si, pelos melhores alunos, incluindo alunos estrangeiros oriundos dos países de língua portuguesa;

- As Ordens Profissionais também têm como missão a defesa e a salvaguarda do interesse público e devem promover com o mesmo entusiamos a divulgação de oportunidades de trabalho em Portugal como fazem com as oportunidades internacionais. No pico da crise justificava-se promoverem saída de cérebros, seus associados. Agora justifica-se a captação dos mesmos e a promoção das condições de regresso junto das autoridades competentes;

- Os fluxos de mobilidade académica proporcionados aos alunos devem ser trabalhados na captação de cérebros exteriores e minimização de perda de cérebros nacionais;

- Usar a marca Portugal para divulgar o que o país tem de melhor para atrair cérebros que queiram viver num país globalmente seguro, inclusivo em relação a raça, sexo e religião, com história, com cidades fantásticas, praias magníficas e solarengo. O objetivo seria atrair capital humano altamente qualificado a custo zero, equilibrando um pouco a balança de transação de talentos. Se o marketing resultou com o turismo agora basta promover para que visitem e fiquem.

- As Universidades, especialmente as que têm cursos de Engenharia, devem comunicara os potenciais alunos que a última crise não é culpa dos Engenheiros nem representativo do tratamento que o país deve dar a esta classe. É essencial captar mais alunos para os cursos de Engenharia, incluindo a Engenharia Civil.

Numa sociedade é necessário equilibrar a necessidade da proteção social aos menos capazes com o reconhecimento e compensação dos mais brilhantes. Sem os segundos, dificilmente poderemos proporcionar um nível de vida adequado aos primeiros. Penso que temos de reconhecer mais os melhores, para ajudar mais os menos afortunados.

J. Catarino


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